quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

De Olhos Bem Abertos

A sociedade civil que tanto lutou e trabalhou para eleger Câmara dos Deputados e Senado Federal mais decentes, honestas, conservadoras e que atendam realmente aos seus anseios nas altas esferas do poder público, viu na última sexta-feira e sábado a votação para a Mesa Diretora do biênio na Câmara e no Senado. Os mais atentos também puderam assistir a formação dos blocos partidários na Câmara dos Deputados.


A configuração na Câmara ficou deveras interessante, para não dizer surreal. O menor bloco é composto por 97 deputados federais pelos seguintes partidos: PT, PSB, PSOL e REDE. Tal bloco é perigoso e habilidoso. A maioria dos deputados nele presentes não são amadores e sabem muito bem como funciona o regimento interno da Casa. 


O principal perigo é que tanto o PT quanto o PSOL possuem umaagenda político-ideológica séria e nítida, que deve ser seguida pelos quadros. O que significa que eles irão fazer como disse a ex-presidente Dilma: "[…] o Diabo" para lograr êxito nas causas políticas. 


Outro aspecto importante é que há dois deputados do PT que certamente serão os líderes ideológicos e estrategistas. São eles Rui Falcão e Arlindo Chinaglia, ambos deputados federais pelo estado de São Paulo. Já no PSOL, esse dever certamente será delegado ao Marcelo Freixo, deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro.


O segundo bloco, composto por 105 deputados federais, possui os seguintes partidos: PDT, PODE, SD, PCdoB, PATRI, PPS, PROS, AVANTE, PV E DC. É um perigoso obstáculo para o governo e para o espectro do centro, pois tal bloco é comandado pelo PDT de Ciro Gomes. Sua estratégia é clara: isolar o PT-PSOL e fazer uma frente firme na Câmara e no Senado, dificultando a tramitação dos projetos e reformas necessárias. Com isso, a referida frente vai conseguir espaço na esquerda e força para as eleições municipais de 2020 e a eleição presidencial de 2022, em que Ciro Gomes voltará com força total para confrontar o governo. Importante também observar os jovens deputados progressistas nesses partidos, como é o exemplo da deputada federal Tabata Amaral, que possui fala mansa e um grande poder de persuasão. 


Já o bloco centro/situação é composto por 301 deputados federais e possui os seguintes partidos: PSL, PP, PSD, MDB, PR, PRB, DEM, PSDB, PTB, PSC e PMN. É uma formação muito interessante. O primeiro ponto é que o partido do presidente não soube usar sua força para emplacar um candidato próprio, mostrando para todos uma completa falta de articulação e noção política. O único representante ao comando da Câmara foi o General Peternelli (PSL), que só obteve 2 votos. Já Marcel Van Hattem, cujo partido Novo só possui 8 deputados federais, obteve 23 votos, o que mostrou dois fatores interessantes: 1 - soube angariar os votos dos deputados federais cujo posicionamento liberal e conservador são fortes; 2- soube se articular com um partido nanico e mostrou disposição no primeiro dia de trabalho.


Marcelo Freixo, do PSOL, conseguiu 50 deputados, mostrando que vai pressionar o governo e será um grande rival na Câmara. O "candidato do governo" Rodrigo Maia, do DEM, conseguiu mais uma vez se articular com o centro e obteve 334 votos, mostrando para Bolsonaro que tudo deverá ser negociado com muita cautela e paciência, tendo em vista que não é nada positivo o ter como inimigo. Há de se ressaltar que Maia é da velha política, um símbolo do que há de pior no jogo político nacional.


Por último, ressalta-se que agora o DEM praticamente comanda o Congresso, além de possuir a Casa Civil e dois ministérios estratégicos: Agricultura e Saúde. Há um antigo ditado que diz que o pior inimigo é aquele que foi seu ex-amigo. O governo possui o complicado desafio de manter o DEM como principal parceiro, já que ter ele como adversário no futuro seria demasiado danoso. O DEM ainda possui fortes coronéis, como é o caso do ACM Neto na Bahia. Não podemos esquecer que ele pode estar visando as eleições de 2020 e 2022. O protagonismo do seu partido agora é forte e irá ditar o ritmo em Brasília.


É notório que o governo de Jair Bolsonaro só está começando e muitas articulações dos novos e velhos políticos ainda estão para aparecer no mar. Possuímos o dever de ficar de olhos bem abertos para não sermos pegos de surpresa.