quinta-feira, 28 de abril de 2016

Um Mistério no Beco

Um Mistério no Beco 


Por um beco totalmente insalubre, negro em todos seus cantos, repleto de resíduos e tonéis transbordando de lixos cheios e fétidos, ao ponto de deixarem qualquer pessoa enojada com a cena horrenda, eu transcorria em andar habitual, rumo à rua principal. Nesse longo tempo em que me dirigia até a rua, no longo vagar, tive uma idéia. Uma idéia do mundo contemporâneo onde nós habitamos, e que era tão cristalina e sublime que iluminou todo esse beco, assustando seus vis inquilinos, com suas quatro patas, asas e até aqueles horripilantes seres que apenas se arrastavam. 

Vejamos bem, meus caros leitores. O tempo atual carrega consigo uma lerdeza alucinante e torturante, tornando as pessoas loucas e insanas, obrigando legiões e mais legiões de pessoas a a marcharem acorrentadas juntas, e durante o sol a pino, o qual castiga ferozmente aqueles que se atrevem a enfrentá-lo, derretendo e queimando tudo diante de seus olhos de dragão. A vida desse pobre povo que foi transformada numa longa e interminável odisseia, e que, infelizmente, não possui um Ulísses para o salvar heroicamente. Essa odisseia nada mais é que uma longa jornada num deserto interminável, e pelo qual você irá vagar e vagar, subir dunas e mais dunas, sem ao menos ver o fim, sem poder ter noção de como será esse fim maldito! 

Mas, nessa vida, meus caros e pobres leitores, existe uma gama de coisas muito peculiares, uma gama infinita de possibilidades que nos surpreende todas às vezes que nos pusermos a refletir em como seria, e aí, ao pararmos para pensar nessas possibilidades, nós mudamos de pensamento e de rumo diante das adversidades impostas na nossa frente. 

Olhamos bem para isso, meus caros: aquele cidadão que possui uma boa noção da terra onde nós habitamos, certamente sabe que nossa civilização atual está arrasada, e também deve saber (espero que sim, em!) que somos obrigados a viver nela, que temos que conviver com pessoas extremamente antagônicas (chatas, falsas, metidas, hipócritas, etc.). Sendo muito bem visível isso, a vida está passando muito lenta diante de nossos olhos, uma vida que possui um cenário falso, que tem uma placa bem grande escrita: “Proibido ser consciente nesse mundo!” 

Essa infinidade de coisas faz-me lembrar de duas grandes frases, de dois grandes gênios da literatura universal. Um desses era russo, e o outro era inglês. Ambos os escritores viveram em sociedades extremamente diferentes, com uma cultura extremamente diferentes, com gostos, preferências e saberes mui diferentes. Mas, com todas essas diferenças, uma coisa os unia: era o dom de olhar para a conjuntura atual da sociedade onde eles viviam e de saber expressá-la na literatura. Como já dizia o grande escritor alemão Hugo von Hofmannsthal: "Nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro na sua literatura".

A primeira frase é do grande escritor Fiódor M. Dostoiévski, que diz o seguinte: “O que suaviza, pois, em nós a civilização? A civilização elabora no homem apenas a multiplicidade de sensações e... absolutamente nada mais. E, através do desenvolvimento dessa multiplicidade, o homem talvez chegue ao ponto de encontrar prazer em derramar sangue”1. Decorridos alguns anos depois da morte do Dostoiévski, a Rússia czarista sucumbi nas trevas da maldade... a perversidade toma conta da pobre, simples e humilde sociedade russa. Com um pseudo-moralismo e um pseudo-nacionalismo,  vimos, clara e terrivelmente, a personalidade da nova elite dominante (que era os bolcheviques) ser corrompida ao extremo. 

Não podemos nos esquecer de outra coisa de suma importância. Em 1917 é o inicio da mentalidade modernista/progressista na Rússia, que iria legar 7 bestas apocalípticas, uma pior do que a outra. Vagarosamente, ali o  povo viu se agigantar as forças do mal, uma força que começou sutil, mas que em pouco tempo foi envolvendo tudo e todos em um manto negro, e munida de uma "inteligência" maléfica, apontou seus horrendos "tentáculos vermelhos", sua "boca salivante”, e, com uma majestosa fileira de dentes brancos e pontiagudos, sempre estava pronta para devorar qualquer coisa em sua frente. Não perdeu tempo para abocanhar e envolver  suas pobres vítimas, que naquele momento tentavam se soltar de seus tentáculos. Cada dente ceifava uma pobre alma, numa perda histórica que soma 20 milhões de inocentes.

A segunda frase é do grande escritor William Shakespeare, o qual  dizia: “Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes”2. Shakespeare mal sabia que nos próximos séculos o dementar nas sociedades não seria restrito a um só número de pessoas, muito menos a uma classe social, mas que a demência iria se potencializar, se alastrar e impregnar-se em todo tecido social dos países do mundo. A demência iria ganhar tanta força, que iria até fazer Manifesto3 nos próximos anos. Iria insuflar multidões em lutas que, na verdade, eram lutas de um só indivíduo. 

Todavia, meus caros leitores. Nem tudo está perdido nesse mundo. Deus não permite só tristezas, sofrimentos e horrores aqui. Não nos esqueçamos de uma frase profética e de suma importância para nossos dias, que foi dita pelo brilhante Fiódor M. Dostoiévski: "A beleza salvará o mundo"4.


Bibliografia:

1. Notas do Subsolo.
2. Obras Completa.
3. Manifesto do Partido Comunista.
4. O Idiota.

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