sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O Esvaziamento do Homem

O Esvaziamento do Homem

Numa sociedade tão ridiculamente organizada como a nossa, buscar a normalidade e a sanidade é uma luta diária. É matar um leão por dia e rezar para não vir mais. Assim, cada indivíduo que se vê rodeado por bestas-feras, sente temor, angústia e preocupação constantemente. Surge em cada brasileiro uma inquietação por ver uma sociedade moribunda e terminal, e em relação à qual ninguém tenta reverter o quadro, muito menos busca uma solução nem um tratamento. 

É como ficar plantado feito uma estátua numa longa calçada, sofrendo a cada minuto um novo esbarrão de um transeunte diferente. Onde ninguém esboça uma frase de desculpa, nem de questionamento a fim de  saber o motivo de estar-se parado na calçada sendo esbarrado todo minuto. É ver o caos e seguir em sua direção não esboçando nenhum sentimento. 

O mais curioso disso tudo é que, ao lermos o passado, podemos perceber que esses sintomas eram quase os mesmos, só que de uma forma mais atenuada e concentrada. Hoje, esses males se espalharam feito chuva, molhando tudo pelo seu caminho. "A desordem de nosso tempo consiste em tender para o amálgama, para o informe, para a massa, para a sociedade sem classe, para um mundo sem limites, para uma vida sem regras, para uma humanidade sem discriminações.1" Nesse sentido nosso saudoso poeta que nos deixou recentemente, Ferreira Gullar, num artigo na Folha sobre crítica de arte, detona esse conceito de “arte moderna”, que é feita a partir do feio e do disforme, algo que invés que atrair a contemplação do belo, produz o efeito contrário.

Não só se tende ao errado e ao grotesco, mas se está tombado e debilitado na sarjeta. O que antes aparentava uma ordem, uma sapiência e uma beleza ímpar, hoje aparenta uma deformidade assustadora e até apavorante. Sendo distribuído para todas as classes, aliás, quem começou com essas insanidades, essas atitudes sem limites, essa vida vadia e vil, foi a elite. Que não pode ver um quadro horrível, que já quer comprar e elevar o valor da criatura. 

Sábio o que naquele tempo era insano, que seguia e narrava o seu tempo sem temor de ser repreendido por ninguém, que circulava solto, tipo um lençol no varal, no qual cada golpe de ar desviava com formosura e leveza. Algo sublime. 

Houve em nossa história sérios, honrados e humildes brasileiros, os quais nos avisaram de um futuro tenebroso e incerto. A lista começa em Alceu Amoroso, passa pelo João Camilo, depois vai por Corção, volta em Machado e logo em seguida vai em Carvalho. Assim, foram horas, páginas e livros de pura e elevada reflexão, mas que tristemente foram deixados no fundo da estante.

Ao negar o glorioso e salutar estudo dos gigantes, o homem virou um ser chamado: Homem-massa, o homem despersonificado que foi bem explicado pelo filósofo José Ortega y Gasset, que bem disse: "É o homem previamente esvaziado de sua própria história, sem entranhas de passado e, por isso mesmo, dócil a todas as disciplinas chamadas “internacionais” (...) só tem apetites, pensa que só tem direitos e não acha que tem obrigações: é um homem sem obrigações de nobreza.2"

É uma obra prima forjada pelo mal terreno. Ao perder todo o respeito pelo passado histórico, o homem-massa, vulnerável e moldável por qualquer tentativa de outrem, aceita novas cordas e novos valores sem imposição. Nietzsche fala em transvaloração de todos os valores, o que de certa forma aconteceu na modernidade, que deixou seu valores mais gloriosos se apagarem no passado. É só chegar com um pirulito que o infeliz já pega e sai sorridente com o novo doce nas mãos. "O mundo moderno, enfraquecido na fé, nos oferece um assustador espetáculo de homens esquecidos de si mesmos, extraviados daquela persistência da alma. A prova disto está na facilidade com que aceitam as mudanças que lhes impuseram.3"

Todavia, há uma luz divina nesta floresta negra aos filhos de Deus, àqueles que em tempos sombrios e escassos, mantêm-se unidos e crentes ao Verbo. Seguir e buscar assim como buscou e seguiu Viktor Emil Frankl4, que durante um bom tempo não tinha quase nada e mesmo assim dividia com seus companheiros o que tinha, sendo um verdadeiro cristão e fazendo todo santo dia um milagre no inferno. Seja e tente todo dia ser um bom filho de Deus.  Amém.

Bibliografia:

1. Uma Teologia da História, de Gustavo Corção. 
2. A Rebelião das Massas, de José Ortega y Gasset.
3. Uma Teologia da História, de Gustavo Corção. 
4. Em Busca de Sentido, Viktor Emil Frankl

2 comentários:

  1. Ontém discutia com um colega de trabalho o porque de um monumento que colocaram em frente à minha empresa. Tres metais retorcidos sem demonstrar absolutamente nada. Forma obscura. Recordei me das belas artes dos antigos em que se podia contar uma história através delas. Realmente o modernismo é uma merda.

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    1. Que droga em! Pede para tirar esse trambolho. Abraços

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