sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Um Sonho Chamado: Totalitarismo

Parte II

Todo processo de decadência civilizacional é anunciado, só que esse anúncio de queda é sutil, não é evidenciado a todos os homens. Digamos que é uma brisa num deserto, tornado muito sutil aos viajantes. Assim, a queda é como uma folha da árvore, que lentamente vai caindo quando o outono vem chegando. Desta forma, ao olhar para a imensa e imponente árvore, o “homem massa” vê sua força, seus galhos altos e seu imponente tronco e, não nota que ela já está morta, está em uma queda vertiginosa e não há mais como voltar ao que já foi outrora. Não percebe que ela vive de um passado glorioso. O passado de uma exuberância e vitórias contra o mundo exterior.

O homem mundano, na boa maioria das vezes, fica maravilhado com as coisas terrenas, brutas e rusticas da vida que nos rodeiam, não percebe o interior das coisas belas e assim o sublime e a essência das coisas e formas nunca são apreciadas com uma atenção cirúrgica, ou seja, o homem torna-se um cego. Mas há aqueles em que possuem olhos atentos e treinados para achar as pérolas raras do mundo, são atraídas aos detalhes sutis que nos rondam e nos instiga. Graças aos atentos, muito ouro da civilização Ocidental foi preservado, criado e reinventado.

Há também aqueles que são traídos pelo mundo, pois muitos vão na sanha busca por se tornar um herói. Tal como foi Aquiles, que traçou seu destino de ir na Guerra de Troia, perdeu sua vida, mas lutou em busca da eternização de seu nome. É a marcha dos soldados pelo deserto da vida, onde os fracos vão tombando lentamente nas dunas e somente os fortes e perseverantes vão avançando.

Os sábios e os atentos ao atravessar o longo deserto da vida, buscam sempre ir no meio, bem escondidos das adversidades do exterior dos pelotões, assim, seu legado sobre a terra consegue milagrosamente perdurar, mantendo o espírito de sua família sobre o mundo. Tal como foram as civilizações antigas e os heróis do passado. Só que para manter isso, a vida irá exigir do guerreiro as chaves das coisas transcendentais do mundo. A religião, o patriarcalismo, as leis romanas, a filosofia grega, etc., o espírito civilizador deverá existir como base para o templo que será erguido pelo bravo homem. 

Desta forma, o legado da humanidade pode perdurar sobre o mundo e sobre o tempo. Uma postura imponente e majestosa sobre as almas, assustando-as e expulsando-as daquele local.

Certa feita, pude ler uma importante passagem da Bíblia – maravilhosa e importantíssima por sinal-, que conseguiu me marcar por muito tempo, a passagem é a seguinte: 

"O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.  Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.  Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois." Eclesiastes 3:15

Nada há de novo debaixo do sol. Os planos, ou melhor dizendo, os sonhos totalitários, no qual o estandarte do império vira uma hegemonia pelos campos infindáveis do mundo, não são de hoje, nem de amanhã, mas sim os velhos planos de controle. "Ora, o homem somente será perfeito quando for capaz de criar e destruir como Deus; destruir, ele já sabe, é meio caminho andado, realmente.1" A ânsia humana por querer ser Deus, e com isso poder erguer na Terra seu paraíso terreno é o velho sonho humano, se formos buscar isso, certamente chegaremos no assim dizer "inicio da história humana". 

Lá nos remotos tempos, no qual o homem via maravilhado nas noites frias da África, as estrelas, as constelações, a lua e os rastros de pó cósmico. A mais linda visão que o homem pode ter, e graças a Deus ainda pode ter. A visão onde os instintos mais primitivos florescem, a imaginação e a ambição corre solta.

Do deserto da África para os portões de Roma, muita coisa mudou na mente do homem ambicioso. O que antes era sonho, impossível de se tornar realidade na Terra, agora começa a virar realidade. Criar e destruir não é tão difícil como outrora. Como disse na primeira parte do texto, havia contido na frase do João Camilo três coisas de suma importância para o homem romano e para o homem contemporâneo. 

A primeira delas é: "O espírito romano - que constituía na construção e avanço do imenso império-, só se mantinha de pé graças às Leis Romanas, dando aos romanos combustível para marchar e dominar a Europa e a África, alimentando assim o sonho hegemônico do império." A expansão do Império Romano era alimentada pela ânsia de obras monumentais, obras faraônicas; erguer colossos de pedras para mostrar a força da Águia de Ouro Romana, e assim dominar e marcar posição nos mais distintos locais da Europa e da África. Do muro romano da Inglaterra a Dougga. Roma rasgou e marcou como um ferro quente todo o Mar Mediterrâneo. Marchar sempre em busca de novos horizontes. 

Certamente, se Roma não tivesse ruído no ano de 476 d. C., o mundo tal como conhecemos hoje seria totalmente diferente, seria um mundo latino. Possivelmente Roma teria inventado o sistema econômico capitalista, teria descoberto a América, teria uma só moeda e idioma dominante no mundo, etc., teríamos o que muitos querem para o nosso presente tempo. O plano de uma só moeda, um só idioma, uma só religião, ou seja, um mundo uno, no qual a ditadura seria democrática, o controle central e sem divergências entre as nações, no máximo entre províncias, pois tudo neste mundo é indivisível. 

As leis romanas, com sua ordem jurídica maravilhosa e complexa, uma ordem racional que vai dividindo das maiores leis para as menores leis, tornando assim, compreensível para todos romanos. Com essa obra única na história, possibilitou a conquista e preservação das mais diferentes culturas do mundo. Transformando o Império Romano num império “multi-religioso”, onde havia a religião de Roma e as demais religiões, que evidentemente eram engolidas lentamente pela religião estatal de Roma.

A segunda parte é: "O anúncio de morte do Império Romano, foi negado e deixado de lado, o "corpo" agonizou até não aguentar mais, pedindo misericórdia, mas tudo e todos fizeram de surdos e mudos." A decadência do imenso império e da sua riqueza religiosa, jurídica e cultural, foi graças ao lento centralismo estatal. Centralizar tudo e principalmente a economia em Roma, a tributação pesada nos mais diversos setores da economia romana, ao ponto de criar insatisfação, revoltas, guerras, etc. Foi o que o economista Arthur Laffer comprovou no século passado com "A Curva de Laffer", que diz que a taxação excessiva faz com que a arrecadação decaia depois de um certo ponto, visto que a taxação não é infinita, mas sim finita. Saber o seu fim é o X da questão e, esse ponto central Roma não soube achar. Jogando lentamente a economia do imenso império na lama.

Podemos dizer que os romanos negaram essa taxação e jogaram em pouco tempo o Império Romano na decadência. A máquina de guerra romana já não mais tinha dinheiro para “queimar” e impulsionar as pesadas engrenagens, que faziam o estandarte avançar sobre o mundo. A Águia de Ouro foi jogada no pântano da Gália e ali permaneceu. As hordas bárbaras, ao ver o Leviatã de cama, moribundo e sem mais a vitalidade de antes, não perderam a oportunidade de matar a fera. Os vermes foram corroendo o cadáver putrefato de Roma até chegar no seu coração, só que ao corroer o cadáver, a mentalidade romana impregnou todos os bárbaros, tornando-os os novos romanos. Nada há de novo debaixo do sol. A roda que parecia estar parando, começou a rodar novamente.

Na última parte do texto: "O sonho de uma hegemonia avassaladora, de uma nova era humana, no qual o passado será negado e apagado e o futuro, radiante e brilhante será o alvorecer do novo milênio." Com o fim da era romana, os bárbaros tornaram-se os novos romanos, levando até o século XV esse espírito. A era medieval, uma era intensa, do qual a luz nunca se apagava, uma era onde a inteligência humana nunca cessou e onde a criatividade e a beleza eram testadas todo o tempo. As guerras dos feudos contras outros feudos, numa busca por criar a nova Roma, foi o sonho totalitário de muitos reis europeus. A busca pela hegemonia do seu estandarte. 

Em suma, a decadência é anunciada aos homens atentos e esse aviso de queda é sempre o início de uma nova forma do Estado e da nação. O “corpo” de Roma descansa hoje nos museus, nos livros e nas mentes, mas seu espirito e sua mentalidade expansionista e imperialista vive como nunca nas mentes dos totalitaristas de nossa era. Nada de novo no front.

Bibliografia: 

1. O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas.

Um comentário:

  1. Boa tarde, excelente explanação, sobre a grande tribulação que estar por vir.
    Hoje o ser humano está atordoado e não consegue enxergar o "Big Brother" está mais próximo do que eles nem sonham.

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